21 agosto 2005

pés

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do meu bairro vê-se o rio, o lixo no chão, os carros estacionados nos passeios. as ruas são estreitas, em todo o junho há álcool e sardinhas, mulheres que se embebedam na praça semi-nuas. também se espreita sobre a estação de caminhos de ferro, a feira da ladra, e um jardim onde se pode comprar mau haxixe.

nunca tinha reparado nisto. nem nos gatos vadios que se estendem ao sol de agosto no beco atrás da minha casa. ou nos candeeiros alinhados na rua que vai do jardim até ao bairro de lata.

um dia saí de casa e apanhei o comboio. levei só uma mochila pequena, um par de calças e três tshirts extra, além da roupa interior, que a minha mãe educou-me para a higiene pessoal. passei muitos meses fora, para te esquecer nas paisagens estrangeiras, em corpos também sós que se encontram nestes caminhos.

mas não te esqueci, que a gente pode mudar os sapatos que calça, mas os pés são sempre os mesmos e são nossos. portanto os meus pés trouxeram-me de volta uns meses depois.

tudo continua igual. só o meu olhar mudou agora que o teu filho nasceu. agora que o vejo começar a ensaiar os primeiros passos, reparo em tudo. por isso, hoje agarrei uma mochila maior, dois pares de calças e cinco tshirts extra, um casaco, um vestido, e uma camisola de lã para as noites mais frias, além da roupa interior, deus tenha a alma da minha mãe em descanso, e vou ver se arranjo uns pés novos.

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