22 setembro 2005

as palavras do costume

uma nota mais. silêncio. pausa. recomeças. a tua voz martela os caminhos conhecidos do meu cérebro, convoca os neurónios do costume. as palavras que repetes já não fazem sentido. são só som sem significado, e tu um peixe fora de água, a abrir e fechar a boca. as tuas palavras já nem me fazem chorar. resta este vago incómodo que se sente quando não se sente nada, mas se sabe que se devia sentir alguma coisa.

posso adivinhar a cadência das tuas palavras, os saltos no discurso. sei que daqui a dois, três minutos vais começar a chorar, depois irás dizer que já não te amo, depois que a tua mãe tinha razão em relação a mim, que não passo de um saco de escumalha que colecciona mulheres como se fossem selos de países visitados no passaporte.

houve uma altura em que as tuas palavras me feriam. houve uma altura em que te amei e as tuas palavras feriam-me. agora repetiste-as tantas vezes que já não as ouço. nem sei sequer se te amo. ainda.

Sem comentários: